Doce infância que se foi...

 
Lá ia ela trajada como a mamãe gostava, seu vestido de boneca estampado de florzinha e surrado pelo tempo, presente da bisavó que não existia mais, cabelos presos ao vento por duas fitas e sapatinho no pé, simples mas mostrava o quando era cuidada pela mamãe e a vovó.
 Um dia brincava como todos os outros fim de tarde de verão  na área de sua casa com velocípede que trazia três fitas de cada lado do guidon, e com ele percorria toda a pequena extensão em forma de infinito imaginário indo muito além do que podia acreditar.. pensamentos livres, risos, gargalhadas, tudo podia e fazia sentindo... e a graça de conversar, explicar suas brincadeiras, suas invenções, menina solta, menina presa, corre, pula, canta e assovia, anda e canta, anda e anda...
 No final daquele dia, ironicamente ou propositalmente,  aceitou o doce que o lobo mal trazia em uma de suas mãos, seus olhos brilhantes e saltantes, sua expressão faminta, dizia ter o  doce mais saboroso do mundo, o gosto vestia as intenções dos pomares, mas não era capaz de acabar com o cheiro da dama-da-noite que perfumava o ar tentando proteger a menina. A mão estendida para ela mostrava o sorriso mais diabólico que ainda distante sugava como imã todo o colorido que pairava sob sua infância...
Em seu colo, podia tocar o doce que açucarava os lábios vermelhos confundindo com o toque da mão que acariciava seu vestido modesto que não conseguia cobrir o corpo ainda frágil da última anemia... cada mordida no suculento doce, subtraía um 01 minuto da sua infância... se afastando, mas não conseguindo, o doce o-atraía, era uma mistura gostosa, o doce é prazeroso, mas o lobo explora, observava, atacava... mas ainda, o doce é prazeroso e ela só conseguia ver colorido... a cada minuto, ela envelhecia sem saber que as marcas eram pra sempre...
 Só Deus, sabe!
 Ela não vai mais brincar sozinha; ela está acompanhada do senhor que suga a infância, aonde quer que vá ela sempre lembrará.
 

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